13 junho 2006

A última pedra

Agora que faltam poucas horas para deixar a Nigéria, coloco a última pedra nesta parede. Quiçá outras serão erguidas!

02 junho 2006

Viagem experimental

Com o pouco que temos para fazer encerrados neste complexo fabril, decidi lançar um desafio a alguns malandros espalhados pelo mundo. A ideia era escolher um ponto de partida e tirar uma fotografia a cada um destes passos:

1. Escolher um ponto de partida.
2. Caminhar numa qualquer direcção entre 34 e 43 passos, e depois rodar 180º.
3. Cotinuar a caminhar nessa direcção até avistar algo cinzento.
4. Virar à direita e caminhar entre 43 a 83 passos.
5. Andar em qualquer direcção até avistar o número 3 ou o número 4.
6. Virar na primeira à direita e continuar a andar até encontrar algo onde uma pessoa se possa sentar.
7. Escolher uma direcção e andar entre 34 a 68 passos.
8. Continuar a andar até ver uma cor, uma forma ou uma textura estranhas.
9. Continuar a caminhar em qualquer direcção até ver um arco ou uma característica arquitectónica pouco habitual.
10. Voltar ao ponto de partida, sempre em busca de algo impressionante.

Cá ficam as minhas fotografias...


Ponto de partida natural: a minha mesinha de cabeceira.


A grande descida para a sala de estar.


Interruptor da sala, inicialmente cinzento, mas feito amarelo pela luz vinda da sala.


O mundo visto pela janela da cozinha.


Selector de temperatura da arca frigorífica: melhor do que o número 3 só mesmo o 3 e o 4.


Uma cadeira de esplanada recolhida cá dentro para abrigar-se da chuva.


O equipamento minimalista da cozinha.


O livro de história de arte e a sua magnífica cor de vinho.


O globo retro da sala.


A fechadura antiga no acesso de volta ao quarto.

17 maio 2006

Why and how to use performance indicators

O último tema a sair, proposto pelo ajudante do Duba...


Eduardo Fonseca Joaquim Why and how to use performance indicators I, Maio 2006


Eduardo Fonseca Joaquim, Why and how to use performance indicators II, Maio 2006


Eduardo Fonseca Joaquim, Why and how to use performance indicators III, Maio 2006



Eduardo Fonseca Joaquim, Why and how to use performance indicators IV, Maio 2006

12 maio 2006

Capacity building in the food industry

Segundo o tema proposto pelo Duba...


Eduardo Fonseca Joaquim Capacity building in the food industry I, Maio 2006


Eduardo Fonseca Joaquim, Capacity building in the food industry II, Maio 2006


Eduardo Fonseca Joaquim, Capacity building in the food industry III, Maio 2006


Eduardo Fonseca Joaquim, Capacity building in the food industry IV, Maio 2006

10 maio 2006

Despair

O primeiro tema a sair, proposto pelo Prince...


Eduardo Fonseca Joaquim, Despair I, Maio 2006


Eduardo Fonseca Joaquim, Despair II, Maio 2006


Eduardo Fonseca Joaquim, Despair III, Maio 2006


Eduardo Fonseca Joaquim, Despair IV, Maio 2006

08 maio 2006

Experiência de clausura

O mundo fora do complexo fabril é perigoso, sobretudo quando se tem na mão uma máquina fotográfica reflex de dimensões difíceis de esconder. Para além dos potenciais assaltos e agressões, os habitantes de Lagos são conhecidos por não gostarem de ser fotografados e por poderem reagir violentamente à presença duma câmara. Não posso assim dar-me ao prazer de repetir experiências como a de Lahore. Não quis, no entanto, deixar de gravar em imagens a experiência de clausura neste complexo fabril.

Durante os fins-de-semana estamos entregues a um canto vedado do complexo onde se situam as residências. É um canto pequenino, onde existem oito casas, espalhadas por entre relvado e à sombra de ávores baixas, mas abertas. Para compensar a clausura, existe uma pequena piscina e um campo de ténis. Não é um espaço vasto ou diversificado que apresente motivos inúmeros. Os residentes são ocidentais e nos dias livres descansam dentro de cada uma das casas, ou entretêm o tempo na linha de produção a "terminar o que ficou pendente durante a semana". Os poucos empregados que mantém o local vêm apenas por pequenas fracções do dia, fazem-se notar pouco e tentam ter um comportamento europeu, forma de respeito pelos "senhores". É pois um local onde é dificil encontrar o que fotografar. Achei que necessitava de temas específicos. Achei que três temas, com quatro fotografias por tema seriam suficientes. Mas de alguma forma teriam de ser temas com alguma marca nigeriana.

Deambulei várias vezes em busca de marcas nigerianas, mas tudo me parecia feito à medida europeia. A vegetação é sem dúvida diferente, mas sei que os fotógrafos do "National Geografic" já se encarregaram de a documentar extensivamente. Tive então de encontrar uma outra forma de introduzir o factor Nigéria neste trabalho.

Foi então que pedi auxílio a dois cozinheiros e a um ajudante nigerianos que trabalham nas residências. Pedi a cada um separadamente que me indicassem um tema, mas sem referir que seria para tirar fotografias. "Um tema?", perguntou-me o Duba baralhado. "Sim, um tema, um assunto", complementei eu, sem referir mais pormenores. Ele pediu-me tempo para pensar, e passadas algumas horas entregou-me um pedaço de papel rasgado onde vinha escrito "Capacity building in the food industry". Fiquei surpreendido, depois desiludido e logo de seguida desmotivado, porque não tinha qualquer ideia de como poderia eu fotografar tal tema. Mas aceitei-o gentilmente, para não rejeitar algo que o homem tinha preparado com tanta dedicação. Mais tarde concluí que o Duba devia ter pensado que eu necessitava de um tema para o trabalho na fábrica, e de facto para isso a capacidade era um tema pertinente. Achei que era pouco provável que o ajudante fosse ter o mesmo tipo de pensamento, e fiz-lhe o pedido da mesma forma. Ele também me pediu tempo para pensar, e também me entregou depois um papel, onde desta vez vinha escrito "How and why to use performance indicators". O tema era novamente importante para a fábrica, mas tornava-se complicado para os meus fins. Aceitei com educação novamente. Ao terceiro pedido, acrescentei que poderia ser qualquer tipo de tema "relacionado com trabalho ou não", e insisti que o Prince dissesse o primeiro tema que lhe viesse à cabeça. Falou-me em "Despair", e eu fiquei aliviado, porque pelo menos esse já seria mais fácil de fotografar. Agradeci com mais esperança.

O conceito tinha sido estabelecido desde o início: fotografaria sobre o que eles me indicassem, e criaria quatro fotografias por tema. Assim, tive de tomar a dificuldade dos temas como um desafio. Fiz muitas incursões à volta da zona das residências em dias diferentes, tirei centenas de fotografias, analisei, escolhi e retoquei, até completar o meu porfólio, que vos deixarei aqui em três entradas diferentes, uma por tema.

05 maio 2006

Desafios diários

No primeiro dia em que chegámos fomos à reunião diária de análise dos testes de qualidade do dia anterior. O enfadonho representante do departamento de qualidade terminou a apresentação dos valores com um "the challenges are still there".

No dia seguinte voltámos a ir à reunião, e o tipo da qualidade disse em tom mole que "there challenges are still there".

No terceiro dia, depois do debitar monótono dos números, ouvimos que "the challenges are still there", e pelo fim da semana nem o homem tinha ganho energia, nem os desafios não tinham desaparecido.

Continuámos a ir à reunião dia após dia, e os maldidos desafios não iam a lado nenhum. Os outros que connosco assistiam dormitavam embalados pela voz monocórdica e mortiça do homem da qualidade, esperando pela frase despertadora "the challenges are still there".

Já faziamos apostas sobre quantos minutos o tipo podia falar sem lembrar que "the challenges are still there". Eu ganhei vinte vezes e o Paulo vinte-e-uma. Ele tem mais experiência de fábrica.

O Paulo começou a repetir ao longo do dia num tom jocoso que "the challenges are still there". Cantarolava-os até enquanto fazia a ronda pela fábrica. Acho mesmo que chegou mesmo a dizê-lo durante o sono.

No dia em que eu tentava igualar a pontuação do Paulo, pusemos os olhos no relógio e os ouvidos à escuta. "Esta é minha, não me ganhas hoje" tentei eu desmoralizar o Paulo. Ele respondeu-me que "ainda tens de passar muitos anos numa fábrica até que me possas ganhar". Mas eu tinha a certeza que este dia era meu, e não me deixei intimidar: "isso é o que tu pensas, olha, olha, está quase, espera, espera, vai ser mesmo agora". E nesse preciso momento, o tipo da qualidade termina com "we are still far away from the promissed land"!

"What?","What did he say?", percorreu a sala em sussurros, assim que cada um acordava sobressaltado do seu normal dormitar.